A holografia, inventada por Dennis Gabor (1900-1979), em 1948, consiste em um processo de gravação e projeção de imagens, permitindo a reconstrução de uma cena em três dimensões. Esta cena, ao ser elaborada sob diferentes ângulos, proporciona uma visão espacial da mesma, como se a estivéssemos vendo na realidade.
Podemos fazer uma analogia trivial, dizendo que a pintura está para a fotografia, assim como a escultura está para a holografia. Essa definição simplista pode ser encontrada no site do Laboratório do Ensino de Ótica, do Instituto de Física da UNICAMP, onde há também uma explicação detalhada do processo físico de criação de um holograma. Mas é importante notar que esta projeção é o resultado da luz sendo recomposta ao passar por uma grade de refração, por um filme especial, não sendo projetada no ar como mostrado no cinema e tv.
Apesar de a holografia ter sido criada antes dos anos 50, só começou a ser explorada a partir da década de 60, com a invenção e aperfeiçoamento do raio LASER. Foi quando o holograma óptico pôde realmente registrar um objeto em três dimensões. Essa conquista rendeu ao físico húngaro Gabor, o Prêmio Nobel de Física de 1971.
Pouco depois, em 1975, o físico argentino José Joaquín Lunazzi, que já vinha trabalhando com holografias desde 1969, foi convidado a lecionar na UNICAMP (SP). Lunazzi foi o introdutor dessa então nova técnica no Brasil, no laboratório do Instituto de Física da universidade paulista.
Mas, somente na década de 80, a holografia se expandiria para além do ambiente acadêmico. O maior evento dessa fase extracurricular foi a exposição “Hologramas”, montada na 16.ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão da Bienal, em 1981, por iniciativa do diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS), Ivan Isola.
Foi Isola quem mostrou hologramas pela primeira vez a Moysés Baumstein, incentivando-o a enveredar pelas experiências holográficas, já que no passado ele trabalhara com imagens em 3D, com o uso de anaglifos.
Porém, foi preciso que seu filho Alberto lhe desse um manual de holografia, editado na Inglaterra, para que a curiosidade crescesse ao ponto de se tornar uma paixão.
Em 1982, montou um laboratório holográfico em sua produtora de vídeo, a VIDECOM, e a partir daí ele acrescentaria ao seu currículo de artista plástico, cineasta e videomaker uma intensa relação com a holografia que duraria até o fim de sua vida.
O fato de ter desenvolvido técnicas próprias para confecção de hologramas de alta qualidade e impacto visual o tornou o hológrafo mais importante e produtivo do país.
Quando Moysés iniciou suas incansáveis pesquisas sobre holografia, o físico russo Yuri Denisyuk (1927-2006) já havia obtido a visualização do holograma com luz branca comum e não mais apenas com o LASER, em 1962. Mas foi a técnica rainbow do físico Stephen Benton (1941-2003) do Massachusets Institute of Technology (MIT), em Boston, que o encantou.
Benton criou uma tecnologia que permite ao espectador ver as cores do espectro luminoso na imagem tridimensional quando se move em relação a ela, como se vê hoje em cartões de crédito (como forma de impedir a falsificação). Dizia que a holografia era uma verdadeira intersecção entre “arte, ciência e tecnologia”. Pois Moysés tinha essa rara combinação de capacidades.
Dois anos depois de montar seu laboratório holográfico, Moysés realizou uma exposição individual, “Hologramas”, no Museu da Imagem e do Som (MIS), com 20 obras do tipo reflexão que são iluminadas pela frente. Seus primeiros trabalhos foram exibidos numa mostra itinerante pela Alemanha e no VII Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM do Rio de Janeiro.
Seguiu sempre com sua produção artística individual, mas trabalhou juntamente com outros artistas para desenvolver uma “linguagem holofráfica”, em obras feitas em parceria com Julio Plaza (1938-2003), com os poetas Décio Pignatari (1917-2012) e Augusto de Campos, o artista multimídia e arquiteto José Wagner Garcia e a pesquisadora Rozélia Medeiros (veja a obra artística de Moysés em holografia e outras áreas em Moysés Baumstein).
Na mesma década de 80 e paralelamente ao seu trabalho artístico, Moysés decidiu ampliar o leque de abrangência do holograma, com foco nas possibilidades comerciais do meio, introduzindo a holografia comercial no país, em 1984.
A técnica passou a ser utilizada como um novo tipo de display, apresentando não apenas um produto em três dimensões, mas todo um conceito de marketing. Enquanto mensagem, o holograma passaria a englobar logotipo, produto e texto promocional.
A partir daí, desenvolveu um intenso trabalho de valorização da holografia enquanto "display de alto impacto visual", para uso em feiras, exposições e pontos de venda variados.
Entre 1985 e 1991, trabalhando com os filhos Ricardo e Fábio, criou e executou mais de 280 hologramas entre artísticos e comerciais, produzindo para empresas como a Souza Cruz, Sherwin-Williams, Lee, Bradesco e Warner-Lambert, além de como o INPE, SESC, SENAC etc.
Em 1989, fundou a empresa Holobrás, especializada na elaboração de pequenos hologramas metalizados em escala industrial, os chamados hologramas impressos.
Com um custo reduzido pela alta escala de produção, passaram a ser usados em cartões de crédito, como adesivos de segurança e de comprovação de origem de produtos, ou ainda como meio promocional e até como produto decorativo.
Eram impressos sobre uma película de poliéster metalizado e confeccionados com uma tecnologia desenvolvida inteiramente no Brasil, pelos Baumstein.
Até então, a técnica era restrita somente a dez empresas em todo o mundo.
Depois de um ano de atividades, o investimento em pesquisa foi praticamente recuperado. Porém, a partir do segundo ano, com a recessão provocada pelo Plano Collor, em 1990, o investimento em promoção e marketing caiu, a holografia impressa deixou de ser economicamente interessante naquele momento e a empresa foi liquidada.
A produção holográfica, porém, foi mantida pela VIDECOM, optando-se pela manutenção dos métodos tradicionais para a produção de displays holográficos, com imagens em formatos de até 1m x 80cm (os hologramas padrão eram de 50cm x 60cm), com um relevo de até 3 metros ou mais da superfície do filme, sempre para uso promocional e comercial, além do artístico.
Em 1991, com a morte de Moysés Baumstein, seu filho Ricardo assumiu a produção e as pesquisas com hologramas, buscando novos rumos. Em 1993, testou um novo conceito: a holografia enquanto mídia publicitária, apresentada agora em locais públicos. Assim, o holograma passou a ser o veículo e o apresentador da mensagem comercial, e não mais uma mídia restrita ao uso em estandes, locais fechados ou pontos de venda.
Diversos trabalhos deste tipo foram produzidos através da agência Meta 29, e encomendados por empresas como o Yazigi – curso de inglês, Centro Empresarial de São Paulo e Atkinsons – perfumes e colônias. Naqueles anos 90, a holografia ganhou força de comunicação como mídia diferenciada e virou objeto de atenção de um público mais amplo.
Entretanto, o encantamento das novas experiências foi aos poucos definhando pela falta de intimidade do mercado publicitário com essa mídia e por conta de uma expectativa deste, quase sempre muito maior do que a resposta que a técnica existente permitia.
Assim, no Brasil, a holografia voltou ao seu reduto inicial, a academia. Em 1998, o professor Lunazzi da Unicamp convidour o cientista russo Yuri Denisyuk (pioneiro na utilização da luz branca comum na holografia), a participar de um congresso de Física em Minas Gerais, e fez questão de passar com ele por São Paulo, para que conhecesse a obra e o laboratório holográfico criado por Moysés Baumstein e instalado na VIDECOM.
Em 2009, a VIDECOM encerrou sua produção holográfica e doou o seu laboratório para a UNICAMP.
A empresa continua suas atividades na produção multimídia, em realidade virtual e projeções em vídeo.