MOYSÉS BAUMSTEIN

Fundador da VIDECOM, Moysés Baumstein atuou nos mais diversos campos, da criação literária à pintura e da produção cinematográfica à holografia, movido por uma curiosidade e perseverança raras.

Com uma formação acadêmica multidisciplinar em economia, sociologia, matemática e teatro, ele mostrou ser um verdadeiro "homem da Renascença", que reuniu a arte e a ciência em todas as suas realizações.  

Uma irreverência demolidora contra todos os conceitos preestabelecidos fazia parte de seu caráter, em certa medida complementando um espírito inquisidor que buscava incessantemente novas formas de expressão, aceitando todos os tipos de desafios.

hológrafo, artista plástico, cineasta

Aliado a esta inquietação criativa, um humor mordaz e crítico permeava sua existência. Tinha senso de humor universal com um base tipicamente judaica fundamentado no non sense mais absoluto.

Moysés Baumstein na produtora VIDECOM década de 80

Sua produção artística e literária refletia fielmente sua personalidade, tendo como bases estéticas o grotesco e o absurdo, a chamada "mistura de níveis ontológicos", ou seja, o humano integrado ao mecânico, o mineral ao orgânico, mas sempre em um contexto bem humorado e satírico.

 

O princípio que o moveu a procurar durante toda sua vida por diversas formas de expressões visuais foi o impacto causado por uma imagem de infância. Ao passar por uma vitrine de loja no centro de São Paulo, na década de 40 viu um pequeno retrato importado, sobre a imagem havia um plástico ou vidro ondulado e mostrava uma mulher que parecia uma estátua, pois era tridimensional.

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Era algo novo demais naquele tempo e inacreditável para o jovem e curioso Moysés, então com mais ou menos 15 anos. Que processos seriam utilizados para se chegar àquele "milagre", àquela sensação de "hiper-realidade"? 

Impressionado com aquela imagem em três dimensões da vitrine (obtida por meio de fotos de diferentes angulos impressas em faixas que, sobrepositas por uma placa de cristal ondulado, resultavam  em uma imagem tridimensional em um processo chamado de "anaglífo"), Moysés buscou informações sobre a estereoscopia. Comprou livros, adaptou filtros e começou a produzir imagens tridimensionais, projetando fotos sobrepostas nas cores verde e vermelho e, mais tarde, com filtros polarizadores, permitindo a visualização tridimensional destas com óculos especiais.  

Continuou a praticar com a fotografia através dos anos, mas teve a oportunidade de se aprofundar quando entrou no campo das artes gráficas. Na direção de uma indústria gráfica a partir de 1968 (Símbolo S/A) obteve os meios para continuar suas pesquisas, aplicando-as ao meio impresso. Assim, editou várias publicações infantis experimentais com o uso de óculos verde-vermelho, até desenvolver, em 1972, um sistema de fotografia e impressão tridimensionais usando o anaglífo, com os mesmos princípios da imagem 3D vista da década de 40. Mas com uma técnica mais avançada, uso de uma película de plástico ondulado sobre o impresso e reprodução em escala industrial. Esta técnica era então utilizada no Japão e nos Estados Unidos primeiramente para cartões postais, depois para selos e capas de revistas. 

Chegou,por pouco tempo, a explorar comercialmente este tipo de imagem tridimensional, mas foi uma descoberta que não o satisfez, principalmente em termos artísticos/expressivos. 

 

HOLOGRAFIA

 

Teve seu primeiro contato com a holografia graças ao então diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS), Ivan Isola, em 1981. À época, era pouco explorada artisticamente e restrita quase que somente a universidades e laboratórios de pesquisa, apesar de possuir enorme potencial criativo.

Foi então que finalmente Moysés viu na holografia a possibilidade de usar a imagem em 3 dimensões como forma de expressão capaz de preencher seus sonhos de infância despertados em uma vitrine.

Ele finalmente poderia trabalhar com a tridimensionalidade sem óculos, películas plásticas ou ilusôes de relevo.

Mesmo com a pouca informação disponível no Brasil, rapidamente e graças a sua formação "renascentista", Moysés absorveu know-how em física, química e fotografia a fim de desenvolver seus próprios hologramas.

 

Suas primeiras holografias foram feitas, em 1982, com um equipamento totalmente improvisado. Assim, uma nova perspectiva se abria para ele, que começou a produzir holografias para outros artistas plásticos e também como passatempo. Até que a realização de um workshop com o artista e hológrafo alemão Dieter Jung, em 1983, despertou a necessidade de aperfeiçoar sua produção holográfica.

 

Investiu na experimentação, e em 1984, Moysés criou uma técnica de controle cromático em hologramas de reflexão inédita em todo o mundo. A precariedade de recursos o obrigava a inovar para obter resultados cada vez mais impactantes. Tal técnica foi ironicamente batizada de "Bafo System of Color Control", onde umidade aplicada sobre o filme holográfico antes da exposição alterava a cor final.

 

Moysés também desenvolveu pesquisas na área do cinema holográfico, tendo construído com o artista Wagner Garcia um protótipo de um kinetoscópio holográfico ‒ um aparato baseado nos primórdios do cinema onde eram colocadas placas holográficas com imagens sequenciais, visualizadas através de um sistema sincronizado de luz estroboscópica, mais lentes plásticas de grandes dimensões. O resultado tornava possível a visualização da animação destes "frames tridimensionais" no espaço, sem óculos.

Sua produção cresceu qualitativa e quantitativamente, começando também a se direcionar para a área comercial. Confeccionou displays holográficos para uso promocional em feiras, eventos e outras aplicações na área de marketing. Moysés conseguiu obter formatos de até 1m x 80cm, e seus clientes foram basicamente os departamentos de promoção de diversas empresas e agências de propaganda.

 

A partir dessa experiência, ele equipou melhor seu laboratório e iniciou uma produção constante.

Realizou “Hologramas”, sua primeira exposição individual de holografias, no MIS de São Paulo: 20 obras no sistema reflexão.

Moysés Baumstein em sua casa em São Paulo nos anos 70

Paralelamente, continuou a desenvolver projetos para fins comerciais, chegando à holografia impressa, uma forma de produção holográfica em massa, utilizando um suporte de poliéster metalizado, cujo know-how era dominado por, no máximo, dez empresas em todo o mundo. Fundou a Holobrás, em 1988, uma empresa que produzia e comercializava hologramas impressos, que chegou a atingir 45% do mercado brasileiro do gênero, em apenas um ano. Moysés desenvolveu uma máquina especial para a estampagem do poliéster com grande produtividade. Porém, com o plano Collor, em 1990, houve um aumento da recessão e a Holobrás foi desativada dois anos depois.

Moysés seguiu com uma atividade holográfica comercial reduzida à produção de painéis e displays holográficos feitos de forma mais artesanal e com a atividade artística, com trabalhos individuais. Fez holografias até o final de sua vida e foi sua obra mais extensa em termos produtivos: entre hologramas comerciais (ver HOLOGRAFIA) e artísticos, ultrapassou a marca dos 280 trabalhos.

 

TEATRO/CINEMA/VÍDEO 

 

Suas primeiras experiências em termos de técnica cinematográfica foram realizadas no final da década de 50, com a bitola de 16mm, mas diante dos custos de realização elevados abandonou o cinema, derivando suas atividades para o teatro.

 

Assim, cursou a Escola de Arte Dramática da USP (EAD) sob a direção de Alfredo Mesquita, no início dos anos 60. Começou a escrever, dirigir algumas peças experimentais e produzir textos para a televisão para os chamados “Teleteatros”, apresentados na TV Tupi e TV Excelsior, ambas em São Paulo. Entre eles, “Às 9 Horas Sem Falta,” com Dioniso de Azevedo e “A MISS”, entre outras, durante os anos de 1966/67, quando suas atividades profissionais o levaram à área gráfico-editorial.

 

Na década de 70, com a difusão do formato Super-8, a realização cinematográfica passou a ser possível dentro de uma estrutura de custo razoável e com recursos técnicos bastante sofisticados. Surgia, em certa medida, uma forma prática de registro cinematográfico com uma relativa qualidade, o que causou uma explosão mundial no uso dessa bitola.

 

Incentivado por Abraão Berman, que montara um centro de estudos e de cursos sobre o cinema Super-8 em São Paulo, o GRIFE, Moysés começou a escrever e produzir novamente para cinema. Festivais de filmes SUPER 8 foram sendo organizados em todo o mundo, de modo a canalizar a ânsia pelo "novo" meio de comunicação. Moysés, entusiasmado, produziu intensamente, usando e abusando de seu humor particular, um total de mais de 20 filmes no período de 6 anos. As participações em festivais o tornaram um dos três realizadores mais premiados do Brasil e no exterior.

 

Todos os seus filmes, produzidos na década de 70, de alguma forma exprimem um humor mordaz e crítico, nos quais os temas mais comuns eram os meios de comunicação, o massacrado cotidiano, a cultura "padrão", e as patrulhas ideológicas. Atacava todos os dogmas, mesmo os chamados temas políticos e sociais, numa época em que eram considerados intocáveis. Ninguém era perdoado, fosse de esquerda ou direita.

 

No início da década de 80, com a decadência do Super 8 no Brasil, Moysés transferiu sua produção para o vídeo, que começava a fazer sua história. Criou a VIDECOM, uma produtora independente com seu filho Alberto, dirigindo suas bem-humoradas realizações para uma linha de programação alternativa para a televisão. Participou de diversos Festivais e Mostras Independentes sendo premiado em várias ocasiões.

Além disso dirigia também vídeos corporativos e institucionais que criaram uma marca diferenciada para as realizações da VIDECOM.

ARTES PLÁSTICAS 

 

Na verdade, o desenho sempre fez parte de suas atividades até iniciar sua carreira na pintura com o mestre catalão Juan Ponç, com quem fundou o atelier L' Espai, em 1960.

 

Os primeiros trabalhos com pintura foram em óleo sobre tela, mas com o desenho a nanquim a expressão de seu universo grotesco se expandiu, chegando a expor entre 1962 e 1967 na IX Bienal de São Paulo, na 1.ª Semana Nacional de Artes Plásticas e no XV Salão Paulista de Arte Moderna. 

bicara bi-cara desenho de Moysés Baumstein

Nessa mesma época, fez sua primeira exposição individual na Galeria Seta em São Paulo (1966). Mais tarde, com o artista plástico Mário Gruber aprendeu a arte da gravura sobre metal, como um desenvolvimento dos seus trabalhos.

Sua experiência no campo das artes gráficas e da fotomecânica permitiu que ele experimentasse processos de fotogravura em cobre, criando um extenso conjunto de obras até 1972, ainda inéditas.

 

Na década de 80, voltou ao desenho com uma série de temas originais e bem-humorados denominados de “Bicaras”, inspirados em obras do final do século XIX que podiam revelar imagens surpreendentes quando viradas de cabeça para baixo.

 

A pintura foi também retomada nessa nova temática, com materiais mais atuais como o acrílico sobre tela. Enfim, uma intensa atividade artística com a produção de inúmeras obras com diferentes técnicas.

LITERATURA 

 

Ao lado de Jacob Guinsburg, fundou a Editora Perspectiva, na década de 60, uma decorrência do fato de já ter publicado diversos ensaios sobre economia e sociologia no período acadêmico. Ali teve oportunidade de conviver com os autores da casa, mentes brilhantes como a de Anatol Rosenfeld. Além disso, passou a exercitar seus talentos literários com pequenos textos e contos esparsos.

 

A influência de Jacob Guinsburg e a experiência com edição o levaram a uma brusca mudança profissional. Em 1968, encabeçando um grupo de investidores, fundou a Símbolo S/A Indústrias Gráficas, firmando de maneira definitiva a sua inserção no contexto gráfico/editorial, o que lhe deu subsídios para continuar com realizações em artes plásticas. Com a formação da Edições Símbolo, em 1976, passou a defender um projeto editorial voltado para o autor nacional e para a literatura brasileira, que resultou também na publicação de seu primeiro livro de contos “As Máquinas”, marcado pelo humor negro e uma concepção estética nitidamente baseada no grotesco e na ficção cientifica.

 

Sua atividade literária foi interrompida por algum tempo até ser convidado, nos anos 80, a escrever uma coluna quinzenal sobre humor judaico (uma de suas paixões). “De Moisés a Moysés” foi publicada por mais de três anos no jornal “A Resenha Judaica”, voltado para a comunidade judaica de São Paulo.

 

 

Moysés Baumstein sempre morou na cidade de São Paulo. Considerava-se uma "criatura urbana que não podia sobreviver ao ar puro do campo". Foi casado por 37 anos com Sarah Baumstein com quem teve três filhos: Alberto, Fábio e Ricardo, que ao longo dos anos trabalharam com ele em inúmeras atividades, reiterando a continuação do legado do pai.

Uma existência intensa e uma busca contínua por novos desafios foram o objetivo maior da vida de MOYSÉS BAUMSTEIN.

Leia mais sobre ele na Wikipédia. 

Exposições Artes Plásticas e Holografias (resumo): 

 

1966 - 1.ª Semana Nacional de Artes Plásticas, São Paulo; V Salão Paulista de Arte Moderna, São Paulo. 
Nesta mesma época fez sua primeira exposição individual (desenhos a nanquim) na Galeria Seta, em São Paulo (1966). 

1967 - X BIENAL - São Paulo, desenhos a nanquim e gravuras. 

 

1983 - Primeiras Experiências com Holografia. 
- Realização de Hologramas para a artista plástica Sulamita Marenes, São Paulo. 

 

1984 - (Junho/Setembro) - Exposição itinerante de holografia pela Alemanha através do Deutches Filmmuseum de Frankfurt (a convite de Dieter Jung) 
- (Outubro/Dezembro) -"HOLOGRAMAS" no Museu da Imagem e do Som (MIS) exposição individual com 20 obras no sistema reflexão, São Paulo. 
- (Dezembro) - VII Salão Nacional de Artes Plásticas Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro. 

 

1985 - (Outubro/Dezembro) - HOLOGRAMAS DÍPTICO, XVIII. BIENAL - São Paulo. 
 

1986 - (Novembro/Dezembro) - Projeto Rosso, como artista convidado, na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), São Paulo.
 

1986/87 - (Dezembro/Janeiro) - TRILUZ, no Museu da Imagem e do Som (MIS) com Augusto de Campos, Décio Pignatari, Júlio Plaza e José Wagner Garcia, São Paulo. 
 

1987 - (Abril) - HOLOGRAFIAS - individual no Centro Cultural São Paulo, São Paulo. 
- (Outubro) - HOLOGRAMAS, individual no Salão de Belas Artes de Piracicaba, Piracicaba/SP.

- (Outubro/Dezembro) - TRAMA DO GOSTO - instalação na XIX Bienal de São Paulo com projetos de Júlio Plaza Décio Pignatari e Augusto de Campos. 
- (Novembro/Dezembro) - IDEHOLOGIA, no Museu de Arte Contemporânea da USP(MAC), São Paulo, com projetos holográficos próprios e também de Augusto de Campos, Décio Pignatari, José Wagner Garcia e Júlio Plaza. O trabalho conjunto levou à realização de outras exposições destas obras do grupo no exterior. 
- (Dezembro) - IDEHOLOGIA, mais mostra uma individual dos trabalhos de Moysés- Fundação Calouste Gulbekian, Lisboa/Portugal. 
Galeria Horizontes na Espanha, (além da venda de alguns hologramas para serem incorporados a coleções particulares nos Estados Unidos e Itália). 

 

1987/1988 (Dezembro a Maio) - MISSÕES 300 ANOS, - Exposição itinerante com Trípitico Holográfico exposto no: Teatro Nacional de Brasília, Brasilia; Parque Lage, Rio de Janeiro; MASP, São Paulo; Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (onde foi incorporado ao acervo local), Porto Alegre. 
- TRILUZ, Galeria Diferença, Lisboa - Portugal. 

 

1989 - Ministrou um Curso de Pós-Graduação em Holografia (1 semestre) para alunos da Universidade de São Paulo 
 

1989 - (Outubro/Novembro) - Projeto COSMO, SESC - São Paulo 
 

1990 - (Outubro) - Exposição de Holograma para o SESC - São Paulo (comemoração centenário da morte do poeta Antero de Quental) 
 

2002 - Centre Régional des Lettres de Basse-Normandie, na França - Poemas holográficos criados por Augusto de Campos e realizados por Moysés Baumstein foram expostos e incorporados ao acervo do Museu. 
 

2007 - Mostra Poesia Concreta – O Projeto Verbivocovisual, Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; Palácio das Artes, em Belo Horizonte. 


Filmografia (SUPER-8): 

1975A Operação/Ficção 
- MIAU /Animação 
- Hommo Pollutus/Ficção 
- A Sessão/Ficção 
- A Trágica, Demoníaca e Asquerosa Face da Verdade/Ficção 

 

1976 - O Manuscrito/Ficção 
- O Asno Coroado/Ficção 

 

1977 - Hipismo/Ficção 
- Fotonovela/Ficção 
- Nada a Declarar/Ficção 
- Inacabado/Ficção 

 

1978 - Método Homeopático/Ficção 
- A Criação/Animação 
- Pesquisa de Opinião Pública/Ficção 

 

1979 - João e Maria, uma Cocochanchada/Política/Ficção 
- Liberdade, Igualdade, Fraternidade/Ficção 

 

1980 - Ginástica Latina/Animação 
 

1981 - Em Busca do Ouro/Ficção 
- Trilogia Grotesca/Ficção 
Videografia (dirigiu mais de 40 vídeos institucionais, empresariais e de treinamento entre 1982 e 1991 para a VIDECOM): 

 

1984 - Pesquisa de Opinião Pública II/ Ficção 
 

1985 - Capitão da Meia Noite/Videoclip (para música homônima de Sá & Guarabira) 
 

1986 - A Sopa/ Ficção 
- A Maldição da Caveira/ Ficção 

 

1991 - Trilogia do Último Minuto/ Ficção 
Homenagem Especial pela sua obra 

 

1992 - Exposição de Hologramas e mostra de Filmes e Vídeos – 9.º Festival VideoBrasil, SESC